Desde que foi implantado na Uerj em 2003, por força de uma lei estadual, o sistema de cotas utilizado na universidade já passou por algumas mudanças e, provavelmente, passará por outra ainda este ano. De acordo com a reitoria, o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da Uerj vai avaliar a possibilidade de aumentar o limite de renda dos candidatos às cotas. Hoje, para ter direito às vagas reservadas o estudante deve provar que a renda bruta por pessoa da família é de, no máximo, R$ 520,00.
Em algumas carreiras, como a
procura é muito pequena, não conseguimos ocupar todas
as vagas reservadas! diz a sub-reitora de graduação,
Raquel Villardi, acrescentando que há uma comissão de
acompanhamento das cotas. Fomos pioneiros na implantação
da reserva de vagas. Ainda estamos aprimorando o sistema.
Também são
pré-requisitos para as cotas ter estudado desde a 5 série
em escolas públicas (no caso da rede pública) ou se
autodeclarar negro. Atualmente a Uerj tem cerca de 23 mil alunos de
graduação e, até julho deste ano, serão
cerca de 9.500 são cotistas. No primeiro concurso com cotas na
Uerj, havia reserva de 50% vagas para alunos da rede pública e
40% para negros. Este percentual podia ser descontado da cota para a
rede pública, porém a Uerj acabou destinando 63% de
suas vagas para cotistas. Centenas de estudantes que tinham média
para se classificar, mas ficaram de fora por causa da cota, entraram
na Justiça para garantir o direito à matrícula.
Mais tarde, as vagas foram canceladas.
No ano seguinte, a lei foi
modificada: 20% das vagas foram reservadas para alunos da rede
pública, 20% para negros e 5% para deficientes e índios,
que comprovassem renda líquida de até R$ 300 por pessoa
residente na mesma casa. No vestibular seguinte, os percentuais foram
mantidos, mas o limite de renda foi reajustado para R$ 520,00.
Faltam cotistas
Além da Uerj, a Uenf
(Universidade Estadual do Norte Fluminense), o Centro Universitário
da Zona Oeste (Uezo) e a Fundação de Apoio à
Escola Técnica (Faetec) também reservam vagas no
estado. No caso da Uenf, o sistema de cotas é o mesmo adotado
pela Uerj e, segundo o reitor em exercício, Sérgio de
Azevedo, o total de cotistas aprovados no vestibular não é
suficiente para preencher as vagas reservadas. Quando isto ocorre, as
vagas são ocupadas pelos não cotistas.
Em média, só
preenchemos 3,5% da cota para negros e 11% da cota para a rede
pública. Isso significa que estes candidatos não estão
qualificados. O concurso exige uma nota mínima de 20 pontos.
Talvez fosse melhor reduzir a exigência sugere Sérgio,
acrescentando que todos os cotistas têm direito a bolsa de R$
190 e acesso a aulas de apoio. O sistema de cotas é
interessante, mas não adianta oferecer a vaga. Tem que
garantir a permanência completa.
Apesar de ser uma instituição
vinculada à Secretaria estadual de Ciência, Tecnologia e
Inovação, a Faetec começou a reservar vagas um
ano depois da implantação do sistema na Uerj e na Uenf,
pois somente em 2004 passou a oferecer cursos superiores em seus
institutos de educação e de tecnologia.
Ano passado a Faetec criou a Uezo,
que também faz reserva de vagas. Inicialmente, o percentual
reservado era o mesmo das universidades estaduais. Mas, no último
vestibular, a cota aumentou para 50% das vagas: 20% para quem estudou
da 5 série do ensino fundamental até o último
ano do ensino médio na rede pública; 20% para quem se
autodeclara negros e 10% para deficientes e índios. Na Faetec
e na Uezo, os cotistas devem comprovar que a renda bruta por pessoa
residente no domicílio é R$ 600.
Por oferecermos cursos de
tecnologia, com duração menor, de três anos,
temos um perfil diferente de alunos diz o secretário de
Ciência e Tecnologia, Wanderley de Souza.
Segundo o secretário,
metade dos 3.745 alunos dos institutos de educação são
cotistas. Na Uezo, 180 vagas foram reservadas no primeiro vestibular
da instituição:
Há três meses soube
que metade dos cotistas brasileiros estudam nas instituições
estaduais do Rio. Só na Uerj são cerca de nove mil
estudantes.
Prazo de validade: dez anos
Duas universidades baianas
reservam cotas para alunos carentes e afro-descendentes: a
Universidade Federal da Bahia e a Universidade Estadual da Bahia. O
resultado tem sido tão satisfatório que a reitoria da
federal já estipulou um prazo para o fim da reserva de vagas.
Dentro de dez anos, não
haverá mais necessidade das cotas. Será um processo
natural dentro da Ufba afirma o reitor, Naomar Almeida.
A federal reserva 45% das suas
vagas a estudantes originários de escolas públicas.
Deste total, 85% devem ser pretos ou pardos e 2% devem ser índios.
Quando não é possível preencher todas as vagas
previstas, as remanescentes são destinadas a pretos e pardos
oriundos de escola particular. Segundo Naomar, só 25% dos que
ingressam pelas cotas realmente precisavam do benefício.
A Universidade Estadual da Bahia
foi a primeira no estado a adotar o sistema de cotas, inspirada no
modelo da Uerj. Ela reserva 40% das vagas para estudantes
afro-descendentes e originários de escolas públicas na
graduação, estendendo ainda o benefício à
pós-graduação. Segundo o pró-reitor
Wilson Mattos, um dos coordenadores do projeto, a idéia partiu
de uma provocação da Câmara Municipal, em 2002, e
foi aceita pela então reitora Ivete Sacramento, a primeira
negra do país.
Em seis meses a medida foi
aprovada pelo Conselho Universitário e passou a vigorar no
primeiro vestibular de 2003. O critério utilizado na estadual
é o da auto-declaração.
Como a Bahia é um estado
com uma população eminentemente negra, fica difícil
contestar uma auto-declaração diz o pró-reitor.
Na Ufba, as cotas só
entraram em vigor ano passado, embora desde 1998 pesquisas
demonstrassem a disparidade na quantidade de vagas preenchidas por
brancos e negros. Adotado recentemente, o sistema já é
alvo de contestação: o Ministério Público
Federal está investigando fraude que teria sido cometida por
três candidatos no vestibular: eles teriam cursado o ensino
médio em colégios particulares, mas apresentaram
documentos falsos emitidos por escolas da rede pública.
Heliana Frazão, de Salvador
Só para índios
Única do país com
cotas exclusivamente para índios, a Universidade Federal de
Tocantins implantou seu sistema por acreditar que já
contemplava os negros. Em pesquisa feita pela instituição,
62% dos alunos se declararam pardos ou negros. A UFT destina 5% das
vagas do vestibular para os índios. Mas elas não têm
sido preenchidas. Das cem vagas reservadas nos dois últimos
vestibulares, apenas 32 foram ocupadas. O resto foi reaproveitada no
sistema tradicional de seleção.
Observamos que praticamente não
existiam índios na graduação e por isso
definimos uma política de reserva de vagas para a população
indígena ? afirma o reitor, o sociólogo Alan Barbiero.
Na prática, o percentual
destinado aos índios equivale a apenas duas vagas em cada
curso. Para concorrer pela cota, é preciso que os estudantes
apresentem documento da Fundação Nacional do Índio
(Funai), informando a que nação indígena o
candidato pertence. A política de reserva de vagas para índios
na instituição está em vigor há quatro
anos. Até agora, dois índios já se formaram: um
em direito e o outro em agronomia.
Jorge Gouveia, de Palmas
Exigência de notas mínimas
Desde 2003 a Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul (UEMS) oferece 20% das vagas para negros e 10%
para índios. Ao todo, 450 cotistas estão freqüentando
a instituição, a maioria vinda de escolas públicas
e com renda familiar na faixa de zero a três salários
mínimos. No total, são 7.032 alunos matriculados na
universidade.
Mas o acesso não é
tão simples assim. Os candidatos têm que passar pelo
vestibular e alcançar notas mínimas. Ele não
pode tirar zero em nenhuma prova e na redação não
pode obter menos que 3 pontos. Além disso, o candidato passa
por uma avaliação de uma comissão, que verifica
inclusive o fenótipo dele. No caso dos índios, ainda é
exigido documento fornecido pela Fundação Nacional do
Índio (Funai), atestando que o vestibulando é indígena.
Segundo o reitor Luiz Antonio
Gonçalves, os cursos mais procurados pelos negros e índios
são direito, enfermagem e turismo. Os dois primeiros têm
em média a proporção de 12 candidatos por vaga.
Para o curso de turismo, a relação é de 8
candidatos por vaga.
Paulo Yafuso, de Campo Grande
Benefício só com
documentos
A Universidade Estadual de Goiás
(UEG) criou um sistema com quatro modalidades de cotas em julho do
ano passado: negros, índios, estudantes de escolas públicas
e portadores de necessidades especiais. A medida causou polêmica
e dividiu opiniões, mas foi repetida no vestibular do início
deste ano.
Segundo a UEG, 23% das vagas foram
reservadas para as cotas, o que representa 84 das 360 oferecidas.
Pelo sistema implantado na
universidade goiana, quem quer se candidatar às cotas para
negros tem que apresentar documento público que lhe atribua a
denominação cor negra. Pode ser certidão de
casamento ou de casamento, além de escritura pública e
documento cadastrado no cartório de registro público. O
indígena que pretende disputar uma vaga no sistema de cotas
deverá exibir no ato de inscrição carteira de
identidade expedida pela Fundação Nacional do Índio
(Funai) ou uma carta da comunidade indígena ao qual pertence,
chancelada pelo órgão. O candidato pode optar ainda por
uma declaração de etnia indígena assinada pela
Funai.
Para os estudantes da escola
pública, o caminho é mais simples. Basta ao candidato
portar o histórico que comprove ter cursado integralmente os
ensinos fundamental e médio em escola pública. Os
portadores de necessidades especiais devem apresentar atestado médico
que comprove sua, indicando o código internacional de doença
(CID) correspondente, além da compatibilidade física
com a atividade acadêmica pretendida.
Orlando Carmo Arantes, de Goiânia
Reserva desde a fundação
A Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (Uergs) criou o sistema de cotas desde a sua fundação,
há quatro anos. A universidade reserva 50% das vagas para
alunos carentes: os candidatos precisam comprovar que a renda
familiar é de até R$ 410 mensais por membro da família.
Outras 10% são destinadas aos portadores de deficiência.
A desigualdade no país não
é essencialmente racial, mas econômica afirma o reitor,
Nelson Boeira.
A Uergs tem unidades em 24 cidades
do estado e oferece 15 cursos. Segundo o reitor, o aproveitamento dos
alunos cotistas não difere dos não-cotistas.
Não estamos formando
profissionais com qualificação deficiente por causa das
cotas ? ressalta o reitor.
A preocupação da
instituição neste momento está sendo a de
flexibilizar as regras das cotas para ampliar o universo de
favorecidos. Entre algumas iniciativas destacadas pelo reitor estão
o aumento da renda familiar, a concentração do
vestibular em apenas um dia para que os alunos não precisem
gastar com alimentação e hospedagem e a redução
da taxa de inscrição.
Chico Oliveira, de Porto Alegre
Prioridade para o interior
O foco da Universidade do Estado
do Amazonas (UEA) é a interiorização e, para
alcançar este objetivo, a instituição reserva
50% das vagas dos cursos de saúde (medicina, enfermagem e
odontologia) para quem estudou, pelo menos, oito anos num dos 61
municípios do interior do estado. Além disso, a
universidade abre vagas especialmente para atender à população
indígena do estado. O sistema de cotas na UEA foi instituído
por lei estadual, mas a universidade teve participação
direta na elaboração do projeto.
O primeiro vestibular com cotas da
UEA foi em junho de 2005. Segundo o reitor da universidade, Lourenço
Braga, o objetivo da reserva de vagas para os cursos de saúde
é formar mão-de-obra para atuar no interior.
O aluno não é
obrigado a voltar para o interior, mas lá terá emprego.
Há carência de profissionais e, se 20% dos formandos
retornarem, será lucro para a cidade ? diz o reitor, lembrando
que o aluno recebe bolsa-auxílio para manter-se em Manaus.
Quanto à cota para os
índios, em vez de reservar vagas a UEA abre um percentual a
mais, de acordo com o curso e a necessidade do estado. Ano passado,
foram criadas 146 vagas para índios e, para ter direito ao
benefício, o candidato deve apresentar certidão da
Funai.
Ediane Merola
Subcota para mulheres
O sistema de cotas da Universidade
Federal de Alagoas (UFAL) é inédito: a instituição
reserva 20% de suas 2.652 vagas para quem se autodeclara negro e é
carente. Só que existe uma subcota para mulheres: 60% das
vagas reservadas devem ser preenchidas por mulheres negras e
carentes.
Criamos a cota por gênero
porque havia dificuldade de acesso para as mulheres diz a reitora,
Ana Dayse Rezende Dorea.
Segundo Ana, o sistema de cotas
foi instituído pelo Conselho Universitário da
instituição em 2004, depois de amplo debate com a
sociedade. A UFAL não reserva vagas para alunos de escolas
públicas, deficientes e índios. No caso dos negros,
eles têm que comprovar que são carentes, mas não
há limitador de renda. De acordo com Ana, a previsão é
de que o sistema fique em vigor por dez anos. Só então
a universidade avaliará se deverá ser mantido ou não.
Ediane Merola
Solução foi criar
mais vagas
A Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo) aumentou em 10% a oferta de vagas no vestibular
para que os alunos que ingressam pelo sistema universal não se
sintam prejudicados. As cotas foram instituídas em 2005 para
alunos que se autodeclararam afrodescendentes e indígenas.
Este ano, houve mudanças: é preciso ter comprovação
de etnia um documento dado pela Secretaria de Segurança em São
Paulo ? e ter estudado em escola pública. Não é
considerada a renda familiar.
Em 2005 foram oferecidas 27 vagas
para cotistas e, este ano, 46, pois a universidade criou novos
cursos. Segundo o pró-reitor de graduação, Luiz
Eugênio de Morais Mello, o sistema de cotas reserva apenas 10%
das vagas porque a universidade optou por criar mais vagas.
Fizemos isso para que os alunos do
sistema universal não pensassem: estão roubando a minha
vaga disse o pró-reitor.
Não há caso de
fraude entre alunos cotistas na Unifesp, afirmou o pró-reitor.
E, de acordo com resultados preliminares de uma pesquisa de
avaliação, os cotistas da Unifesp têm o mesmo
desempenho que os demais alunos.
O pró-reitor não
concorda com o projeto que prevê cotas de 50% nas federais:
Você teria em uma ponta
alunos muito qualificados e, em outra, alunos com deficiências
na base de formação educacional. Fizemos uma projeção
para as cotas de 50% de alunos oriundos da rede pública na
Unifesp e, por ela, entrariam cotistas que tirassem zero em alguma
das provas ? conta Luiz Eugênio.
Para o pró-reitor, a
formação dos alunos da rede pública deveria ter
mais qualidade. Com cotas de 50%, a nota de corte pode ficar muito
baixa. A alternativa, segundo Luiz Eugênio, é que a lei
dos 50% tenha uma nota mínima, que elimine os alunos com baixa
pontuação. Por outro lado, as vagas que sobrassem das
cotas deveriam ser usadas pelos estudantes da fila de espera do
vestibular universal.
Tatiana Farah, de São Paulo
Reserva também para
professores
Depois de realizar dois
vestibulares destinando vagas a negros originários de escolas
públicas, a Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat)
tenta agora implantar o sistema de cotas também na contratação
de professores. Uma proposta aprovada em dezembro pelo Consuni
(Conselho Universitário) estabelece que 5% do total de vagas
do próximo concurso deverão ser destinadas a docentes
negros. A idéia, no entanto, não tem o aval da
Procuradoria Geral do Estado, que deu parecer contrário por
considerá-la inconstitucional.
No vestibular 2006, a universidade
destinou 25% das vagas a candidatos que se auto-declararam pretos ou
pardos e que cursaram o ensino fundamental e médio
exclusivamente em escolas públicas ou em particulares com
bolsa de estudo. Ao todo, 428 das 1.720 vagas ficaram com os
cotistas. Apesar de ser a única instituição a
oferecer o sistema em Mato Grosso, a procura não tem sido
grande. No vestibular de 2006, apenas 567 pessoas se inscreveram para
disputar as 428 vagas.
A procura realmente é
baixa, mas acho que os estudantes ainda estão experimentando o
sistema. A tendência é que a procura se eleve nos
próximos vestibulares diz o reitor Taisir Mahmudo Karim.
Anselmo Carvalho Pinto, de Cuiabá
Avaliação seriada
também para cotistas
O sistema de cotas da Universidade
Federal do Pará (UFPA) foi implantado em 2004, mas somente no
fim deste ano será selecionada a primeira turma de cotistas. A
explicação é simples. Como o processo seletivo
da instituição é seriado (com avaliações
anuais, nas três séries do ensino médio), a UFPA
teve que implantar o sistema progressivamente.
A universidade oferece cinco mil
vagas e, deste total, 50% serão destinadas aos alunos que
cursaram os três anos do ensino médio em escolas
públicas. Deste percentual, 20% das vagas serão
ocupadas por estudantes autodeclarados negros. Quem já
concluiu o ensino médio faz as três provas do processo
seriado separadamente.
Segundo o reitor da UFPA, Alex
Fiuza de Mello, a universidade agora estuda a reserva de vagas para
índios. Mas antes de criar esta nova cota, a instituição
quer discutir o tema com a sociedade.
Criar cotas para índios
seria um grande marketing, mas também pode ser uma ação
apenas populista. Por isso temos que estudar bem o tema -- diz Alex.
Ediane Merola
Visitas aos candidatos evita
fraude
Em Minas Gerais, três
instituições públicas reservam vagas. Nas
universidades Estadual de Montes Claros (Unimontes) e do Estado de
Minas Gerais (UEMG), as cotas foram instituídas por lei
estadual em 2004. Já a Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) adotou-as voluntariamente, ano passado.
Na UFJF, a cota é de 50%
das vagas para alunos que estudaram, pelo menos, sete anos na rede
pública. Do total das vagas reservadas, 25% devem ser
preenchidas por negros. Na federal, a cota só incide sobre as
1.463 vagas do vestibular (a UFJF também oferece 626 vagas no
processo seriado, que realiza avaliações anualmente, no
ensino médio).
Se a lei federal for aprovada,
será fácil nos adaptarmos diz Maria Margarida Martins
Salomão, reitora da UFJF.
Pela lei que criou as cotas na
UEMG e na Unimontes, as universidades devem reservar 20% de suas
vagas para alunos carentes, que fizeram todo o ensino médio na
rede pública; 20% para quem se autodeclara negro e é
carente e 5% para deficientes e índios. Na Unimontes, negros e
alunos da rede pública têm que comprovar renda máxima
de um salário mínimo por pessoa da família. Para
evitar fraudes, Paulo Cesar Gonçalves de Almeida, reitor da
Unimontes, diz que a universidade faz visitas domiciliares, por
amostragem. Dos oito mil alunos de graduação da
instituição, 852 são cotistas.
Na UEMG, não há
limitador de renda mas, segundo a reitora em exercício Janete
Paiva, a carência é verificada através da análise
de documentos como contas de luz, de água, contracheques.
UnB: foto é examinada
Primeira das federais a implantar
sistema de cotas, a Universidade de Brasília (UnB) já
realizou quatro vestibulares com reserva de 20% das vagas para
afrodescendentes. Já chega a quase mil o número de
alunos cotistas na instituição. O reitor, Thimothy
Mulholland, acha possível cumprir a meta de destinar 50% das
vagas para negros, indígenas e egressos da escola pública
antes do prazo de seis anos.
O reitor afirmou que não há
distinção entre o desempenho dos cotistas e dos que
ingressaram pelo chamado sistema universal. A UnB oferece aos alunos
carentes bolsa-alimentação, residência estudantil
e até busca emprego para eles, fazendo convênios com
vários órgãos do governo federal.
A UnB está sempre avaliando
o cotista e divulga os cursos em que seu desempenho é melhor
ou pior que os outros estudantes. A universidade mantém um
severo critério na hora da seleção, para que as
normas de ingresso de negros não sejam burladas. Os candidatos
às cotas devem apresentar foto, que é examinada A
reitoria criou uma comissão, formada também por
representantes de movimentos sociais, que atua no momento da seleção.
Outra instituição
com cotas do Distrito Federal, Escola Superior de Ciências da
Saúde é uma faculdade pública ligada à
Secretaria de Saúde. Criada há seis anos, há
dois anos a escola, por força de uma lei da Câmara
Legislativa, adota o sistema de cotas e destina 40% das vagas (32 de
um total de 80) para estudantes que cursaram todo o ensino básico
e médio em escolas públicas. Não há
seleção por raça.
O coordenador da escola, Antônio
Carlos Souza, disse que entre os dez melhores estudantes de toda a
escola três ingressaram pelo sistema de cotas. A instituição
também mantém em sigilo o nome dos cotistas para evitar
que sejam estigmatizados.
Alunos de escola pública,
sim. De escolas técnicas, não
Depois de muita discussão,
a Universidade de Pernambuco (UPE) decidiu reservar vagas apenas para
candidatos que vieram de escola públicas. A cota é de
20%. Este ano, das 3.130 vagas oferecidas, 624 foram preenchidas
pelos candidatos que cursaram pelo menos o ensino médio em
escolas públicas municipais e estaduais as federais (técnicas
e militares) foram excluídas por apresentarem ensino de boa
qualidade. A universidade sustenta que estes alunos não
precisam do benefício.
Discutimos muito sobre as cotas
para os negros e achamos melhor adotar o benefício para
estudantes das redes estadual e municipal. Observamos que, em todo o
estado, de 80 a 85% dos alunos dessas escolas são pretos ou
pardos. Temos pesquisas do MEC que indicam que a qualidade do ensino
médio em Pernambuco, tanto estadual quanto municipal, é
um dos piores do país. Queremos dar oportunidade a esses
alunos explica o pró-reitor de Assuntos Acadêmicos da
UPE, Guido Correia.
Ele diz que a maior dificuldade é
conseguir bolsas compatíveis com as necessidades dos
estudantes. Eles recebem R$100 anuais do estado, verba que não
dá nem para comprar livros, já que muitos precisam
dessa ajuda para comprar alimentos e até mesmo para as
passagens de ônibus.
Preparando-se para defender uma
tese sobre as cotas, a professora da UPE Tereza Frazão só
tem elogios para o sistema,mas reconhece as dificuldades dos seus
alunos carentes:
A universidade não quer que
eles sejam identificados e oficialmente ninguém sabe quem é
quem. Mas isso termina sendo percebido no dia-a-dia. Felizmente, o
que tenho visto em sala de aula é muita solidariedade e os
alunos de melhor poder aquisitivo ajudando os que, visivelmente, não
o possuem diz Tereza, que ensina comunicação
empresarial no curso de administração de empresas.
Comissão comprova cor
A Universidade Estadual de
Londrina (UEL) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR)
adotaram o sistema de cotas em 2005, ambas destinando 40% das vagas
para alunos da rede pública e negros, e já enfrentam
processos na Justiça. Na UEL, das 3.010 vagas oferecidas, 927
foram preenchidas por estudantes que cursaram a escola pública
da 5 série do ensino fundamental ao último ano do
ensino médio. Outras 286 vagas foram ocupadas por pretos e
pardos. O coordenador do sistema de cotas da UEL, Jairo Pacheco,
explica que a cota está baseada na cor (autodeclaração)
e não na afrodescendência:
Três estudantes ingressaram
na universidade por medidas liminares por se considerarem
afrodescendentes conta Jairo.
A confirmação da
autodeclaração de cor é feita por uma comissão
da universidade e membro do Conselho da Comunidade Negra.
Na Universidade Federal do Paraná
(UFPR), dos 3.918 calouros aprovados no vestibular deste ano, 1.111
deles entraram pelas cotas sociais e raciais. Porém, 82
estudantes não conseguiram comprovar que têm direito às
cotas da rede pública e 29 deles entraram com recursos. Dos
353 calouros aprovados por cotas raciais, 30 não conseguiram
comprovar a condição de afrodescendentes, gerando
recursos. A universidade também conta com uma comissão
para analisar os aprovados pelas cotas raciais e, se necessário,
impedir a matrícula de quem não está dentro das
exigências.
O governo do estado do Paraná
também instituiu que as unversidades públicas estaduais
abram vagas para índios que morem há dois anos em
reservas paranaenses. Este ano o número de vagas dobrou de 18
para 36 e os índios fazem um vestibular excluivo. A federal do
Paraná abre cinco vagas para índios de todo o
território nacional.
(Ediane Merola)