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O ÍNDIO DEPUTADO

Ontem com o sol quente e a baixa umidade do ar de Brasília, um velho
guerreiro indígena simplesmente desabou em frente a Sede principal da
Funai para desespero de diversos parentes. Naquele momento houve um
corre-corre em busca dos primeiros socorros. Alguns tentaram ligar
para a Funasa que respondeu dizendo não haver carro disponível. Outros
ligaram para o SAMU cujo telefone só dava ocupado e a Funai... bem,
voluntários... e assessores... não sabiam que atitude tomar, pois
saúde indígena já não era sua missão. Uma copeira se dispôs então a
pegar seu carro e levar o homem para o hospital... Por fim, alguma
alma boa socorreu aquele senhor de uns 60 anos, e evitou-se o pior!

Diante desse quadro explícito da falta de respeito com a vida
indígena, torna-se premente que guerreiros brasileiros indígenas e não
indígena, comecem a abrir seu coração não apenas com revolta mas com
indignação.

Uma das saídas mais importante que podemos usar são as eleições dos
próximos dias. Geralmente temos o costume de não assistir os programas
dos candidatos, mas é preciso pelo menos para ver como se constrói uma
candidatura que quer nos representar na Presidência da República, no
Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembléias Legislativas.

No caso das realidades indígenas, temos que assistir a todos os
programas e de repente, quem sabe, alguém apareça falando no nosso
tema, além do locutor e ator da Nação Baniwa, que está interpretando
profissionalmente seu trabalho para o programa do PT. Precisamos
analisar o voto decisivo que temos em mãos. A quem vamos entregá-lo?
Até agora nenhum candidato a Presidência por exemplo, falou sobre os
direitos indígenas, sobre a Funai ou compromisso de ações afirmativas.

O PT, partido do Governo, informa estar trabalhando num programa
partidário coordenado pelo Professor Indígena e Conselheiro do MEC,
Gersen Baniwa, com assessorias do Coordenador para Educação Indígena
do MEC, Kleber Gesteira e pelo ex-Diretor de Administração da Funai,
Fred que representa os servidores da entidade.

Fora isso, a realidade lamentável demonstra que os Povos Indígenas não
tem voz e muito menos representação política.O último e único Deputado
Federal que tivemos, foi o ex-Cacique Xavante, Mário Juruna. Uma
realidade que nos desafia... Até quando????

De toda maneira surge do meio das cinzas, três guerreiros, três
mosqueteiros, quem sabe fatigados e esperançosos, que se lançam do
alto dos 500 anos de resistência dentro de seus Estados, em busca de
uma vaga para Deputado Federal: em Roraima, José Adalberto Macuxi; no
Amazonas, Pedro Tariano e em Mato Grosso, Jeremias Xavante.

Certamente aparecerão pouco nos programas de TV. Certamente terão
poucos "santinhos", quase nenhum carro, alto falante ou dinheiro para
contratar cabos eleitorais. Mesmo assim, adentram mares bravios, em
Estados e regiões antes nunca navegados. São candidaturas estratégicas
para a afirmação da representação política indígena, nobres em termos
da diversidade cultural, recursos naturais, minerais e cidadania
tradicional. Nessas regiões é que foram plantadas as sementes de uma
futura Universidade Indígena. São Estados com matizes sociais,
culturais e físicos que confundem índios, negros e brancos. Olhe o
rosto de um Roraimense. Escute o jeito de falar de um Cuiabano. Sinta
o sabor do Tambaqui...

Além da questão territorial, um elo une esses Estados, os Povos e a
Candidatura de um Índio: a tradição da Missão Salesiana e seu pendor
educacional dentro da Igreja Católica e o espírito indigenista da
Funai...

São exemplos de situações que despertaram nas candidaturas indígenas o
senso de representar com dignidade e respeito dos novos descendentes,
mas será que isso assegura o voto necessário para a vitória?

Se levarmos em conta a visão de futuro para o respeito mútuo e a
igualdade racial de muitos professores e alunos, secundaristas ou
universitários, missões católicas e evangélicas, além de indigenistas,
todos com cabedais comprometidos com a causa indígena, essas
candidaturas tem grandes possibilidade de vencer.

Não está em jogo aqui a questão partidária, mas a questão ideológica
dos Povos Indígenas e seus aliados.

Por outro lado, as lideranças e as aldeias que dificilmente receberão
a visita dessas candidaturas indígenas por falta de recursos e
infraestrutura, devem assumir o compromisso de votar como uma resposta
ao valor moral e histórico da grande dívida da Nação com os Povos
Indígenas de no mínimo, se fazerem representar.

Ao mesmo tempo, será uma contribuição a todos aqueles que como nós,
desejam construir uma representação ética e soberana que resgate nossa
dignidade como cidadãos e orgulhe o mandato por nós outorgado.

Nós do movimento e organizações indígenas, queremos que o sol de
Brasília ilumine o dia-a-dia da Esplanada com sua luz forte, mostrando
que se um índio tombar em frente a Sede da Funai, não será por falta
de um copo de água ou de alimentação, jogado ou atirado a própria
sorte, mas saberá nas forças dos antepassados, cair de pé como no
dizer do Bispo Pedro Casaldáliga, como uma árvore...

Como primeiras nações do Brasil, convidamos os cidadãos de todo o
Brasil a votarem com o orgulho da indignação contribuindo para
corrigir os erros do passado: para nós, um Índio Deputado.

Mato Grosso, terra de Rondon, mande para Brasília um Deputado Federal
Indígena, votando no guerreiro Jeremias Xavante.

Roraima, terra de ouro e mel, mande para Brasília um Deputado Federal
Indígena, votando no guerreiro José Adalberto Macuxi.

Amazonas, terra de muitas águas, mande para Brasília um Deputado
Federal Indígena, votando no guerreiro Pedro Tariano.

Nossa mensagem é mais que uma campanha: uma nova consciência para além
das próximas eleições!

 

M. Marcos Terena

Presidente do Comitê Intertribal (ITC)

Coordenador da VIATAN ? Central de Informações Indígenas