Cotas na
UFSC a partir de 2008?
Para os
americanos, ações afirmativas. Para os europeus,
discriminação positiva. E em bom português: cotas
para promover o acesso de alunos oriundos de escolas públicas,
negros e indígenas ao ensino superior. A Universidade Federal
de Santa Catarina estuda a adoção do sistema, e pode
ser a próxima instituição a implementar essas
ações no processo seletivo do vestibular.
Após
sete meses de discussões com a comunidade, a Comissão
de Acesso e Diversidade Socioeconômica e Étnico-racial
da UFSC entregou ao Reitor, Lúcio Botelho, um documento que
reúne propostas para ampliação do acesso ao
ensino superior brasileiro.
As ações
sugeridas pela Comissão dividem as cotas em três
categorias especiais. A primeira garante 20% das vagas para
estudantes que tenham cursado o ensino fundamental e médio
integralmente em escolas públicas. A segunda destina 20% das
vagas para candidatos negros, dos quais 5% são preferenciais
para aqueles que estudaram em escolas públicas. A última
categoria de ingresso assegura 5 vagas para indígenas, com a
perspectiva de aumentar uma a cada ano até o vestibular de
2013. As vagas não preenchidas serão disputadas pelos
não-cotistas. A previsão é que o sistema comece
a valer a partir do vestibular de 2008.
O Reitor,
Lúcio Botelho, revelou-se entusiasmado com as propostas da
Comissão. O documento ainda deverá passar pela
aprovação do Conselho Universitário, mas Botelho
acredita que o projeto é um compromisso constitucional da UFSC
com o que é vital para a sociedade. Botelho também não
descarta a realização de um vestibular específico
para os cotistas.
Para o
professor de Física e membro da Comissão de Acesso da
UFSC, Marcelo Tragtenberg, o sistema de cotas não vai refletir
a diversidade sócioeconômica brasileira, pois para isso
seria necessário destinar cerca de 80% das vagas para os
egressos do ensino público. "O sistema de cotas é
um avanço, mas ainda é insuficiente", aponta.
Tragtenberg também não vê razões para os
não-cotistas se sentirem prejudicados com o sistema de reserva
de vagas. "As vagas não são deles [não-cotistas]!
As vagas são da universidade e da sociedade. E tem mais: a
nota no vestibular reflete fortemente a capacidade econômica
que o indivíduo teve para se preparar, particularmente nos
cursos mais concorridos", afirma.
Mas não
basta colocar o cotista na universidade - o desafio é
mantê-lo. Tragtenberg acredita que deve haver um esforço
da própria universidade para evitar a evasão dos
alunos. "A tendência em universidades como a UFPR e a
Unicamp, por exemplo, é que haja muito mais evasão de
alunos que ingressam pelo sistema universal do que de beneficiados
pelas ações afirmativas", garante. Outro dado
apresentado pelo professor aponta que, em 2005, os alunos
beneficiados por ações afirmativas tiveram melhores
médias em 31 dos 56 cursos oferecidos pela Unicamp.
As cotas
no Brasil
Das 23
instituições brasileiras que adotam o sistema de cotas,
16 reservam vagas para alunos de escola pública e 17
beneficiam negros. Mas têm universidades ampliando também
o acesso de mulheres e estudantes do interior ao ensino superior. A
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), por exemplo, reserva 20% de
suas 2652 vagas para quem se declara negro e é carente. O
detalhe é que 60% dessas vagas, o equivalente a 318, deve ser
preenchida preferencialmente por mulheres negras e carentes.
Já
na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), 50% das vagas dos cursos
de saúde (Medicina, Enfermagem e Odontologia) são
destinadas para quem estudou ao menos oito anos em algum município
do interior do estado. O Reitor da universidade, Lourenço
Braga, afirma que o objetivo da reserva de vagas na área da
saúde é formar mão-de-obra para atuar no
interior. A UEA também tem cotas especiais para os indígenas
do Amazonas.
E para
que nenhum aluno não-cotista se sinta prejudicado, a
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aumentou em 10% a
oferta de vagas no vestibular. As cotas para negros e índios
foram instiuídas em 2005 na Unifesp, mas em 2006 já
houve mudanças no sistema. Agora os estudantes devem comprovar
a etnia, através de um documento da Secretaria de Segurança,
e devem ter estudado em escola pública. A renda familiar não
é considerada.
Uma das
primeiras federais a implantar o sistema de cotas, a Universida de
Brasília (UnB), garante 20% das vagas para os negros. O
curioso é o critério de seleção utilizado
para que as normas de ingresso não sejam burladas: uma
comissão examina as fotos dos candidatos a cotistas. Atuam
nessa seleção representantes da reitoria e de
movimentos sociais.
Mais
negros no ensino superior
A mais
recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE
revela que, na última década, subiu de 18% para 30% o
número de brasileiros que se declaram negros ou pardos no
ensino superior.
De acordo
com a Folha de São Paulo, esse crescimento se deu
principalmente a partir de 2001, quando o percentual era de 22%. Se
continuar assim, o Brasil chegará a 2015 com uma participação
de negros na universidade compatível com a presença
deles na população, que hoje é de 49%.
Raquel
Azevedo
www.unaberta.ufsc.br/noticias/24182
(Raquel de Azevedo)