Criação
de cotas na UFMA divide opiniões
A partir
do primeiro vestibular de 2007, a Universidade Federal do Maranhão
(UFMA) vai destinar 50% das 3.353 vagas oferecidas para candidatos
negros ou que cursaram o ensino médio em escolas públicas.
A adoção de cotas sociais e raciais foi aprovada no
final de outubro, mas ainda depende de regulamentação.
A medida, contudo, divide representantes de afrodescendentes, alunos
de escolas públicas e particulares, bem como outros grupos da
sociedade que se mobilizam contra a criação de cotas na
UFMA.
A partir
do vestibular de 2007, das 3.353 vagas que serão oferecidas
pela UFMA, 839 vagas (equivalente a 25% do total) serão
disputadas por candidatos negros, independentemente de terem cursado
instituições públicas ou privadas. Outras 839
vagas serão destinadas exclusivamente a candidatos
provenientes de escolas públicas, independentemente de etnia.
A
universidade anunciou também que será criada, em cada
semestre, uma vaga para índios e outra para pessoas portadoras
de deficiência. Atualmente, a UFMA tem aproximadamente 11 mil
estudantes em cinco campi.
Embora
tenha sido aprovada, a regulamentação da criação
de cotas ainda depende de medidas que serão tomadas sob a
responsabilidade da Comissão Permanente de Vestibular
(Copeve). Os integrantes da comissão estão elaborando a
minuta de resolução disciplinando a adoção
de cotas e que será aprovada pelo Conselho de Ensino Pesquisa
e Extensão (Consepe), da UFMA.
Para o
presidente do conselho de Defesa da Sociedade Maranhense de Direitos
Humanos e militante do Centro de Cultura Negra, engenheiro Magno
Cruz, a decisão da UFMA ainda é considerada como “muito
tímida, mas representa um avanço dentro de uma
sociedade conservadora”, principalmente por grupos que questionam a
medida em todo o país.
Na sua
avaliação, as pessoas, a princípio, acreditam
que basta a existência de cota para que os negros possam entrar
para a faculdade. O que não é verdade. Os
afrodescendentes serão submetidos ao vestibular e passarão
por critérios de aprovação, que avaliarão
o nível de conhecimento para que o candidato possa entrar para
uma universidade pública ou privada.
Magno
Cruz lembrou que educação de qualidade para negros é
uma reivindicação histórica que existe há
mais de 30 anos, a fim de evitar que a comunidade universitária
nacional seja composta por apenas 2% de afrodescendentes.
Ele
desmistifica a versão que a criação de cotas
seria uma medida tomada de cima para baixo. Segundo ele, algumas
“cabeças iluminadas” dos dois últimos governos
adotaram a bandeira de luta dos movimentos negros e o critério
de destinar 25% das vagas nos concursos vestibulares para esse
segmento.
Para
Magno Cruz o processo de criação de cotas é
discutível, mas é também um reconhecimento do
Estado para transpor a barreira que faz com que a população
negra não chegue à faculdade na mesma proporção
que ela é representada na sociedade, o mesmo ocorrendo com os
alunos oriundos das escolas públicas.
Ele
também defende a criação de cotas no emprego
público, embora reconheça que as medidas não
irão abolir a discriminação racial. “É
preciso avançar na valorização da auto-estima da
população afrodescendentes”, acentua.
Para o
representante do Centro de Cultura Negra do Maranhão, Luís
Alves Ferreira, os negros tem de assumir a identidade cultural,
discutir a construção do mérito, e afirma que
não concorda com a forma pela qual a sociedade conservadora
brasileira construiu um patrimônio às custas de negros,
índios e exploração de mulheres.
A
presidente da Federação dos Estudantes Secundaristas do
Maranhão (Fesma), Ana Paula Ribeiro, destacou que as ações
implementadas pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão da
UFMA e a isenção do Programa de Seleção
Gradual (PSG) devem ser discutidas à exaustão, pelos
segmentos organizados.
Para o
representante do Movimento dos Estudantes Independente (MEI), Vítor
Fontenele, a criação de cotas deve ser considerada como
uma via de mão dupla. Ele reconhece que é a única
maneira de socializar o acesso dos estudantes de baixa renda às
universidades, pois eles não têm condições
financeira para investir em curso superior.
Na
contra-mão da via, os estudantes de escolas particulares com
condições financeiras para custear os ensinos, são
contra a criação de cotas para negros e estudantes de
escolas públicas. A posição é contrária
à dos alunos das escolas públicas que defendem, além
da criação de cotas, maiores investimentos oficiais
para garantir educação de qualidade.
O
presidente da União dos Estudantes de Ensino Superior
(Unipar), Jadson Pires, defende a adoção do sistema de
cotas “porque democratiza o acesso dos estudantes de baixa renda”
ao ensino superior, bem como atende as reivindicações
dos movimentos negros.
Pires
disse ainda que o universitário do setor privado, em sua
maioria, trabalha durante o dia para arcar com as despesas da
faculdade, frisando que a mensalidade no Maranhão é
hoje uma das mais caras do país. “Ao criar o sistema de
cotas o Estado brasileiro está pagando uma dívida
histórica com estudantes do ensino público,
afrodescendentes e indígenas”, concluiu.