Estudos apontam bom rendimento de cotistas
A
Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Unicamp e a Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) adotaram políticas de
cotas diferentes. A reportagem mostra as impressões dos
dirigentes das universidades sobre as cotas e dados de desempenho dos
alunos cotistas.
As
políticas de ações afirmativas em discussão
no Congresso já podem ser examinadas com base em experiências
concretas de várias universidades públicas brasileiras.
A Folha selecionou três delas por serem pioneiras ou por já
terem feitos estudos que permitiram avaliar os primeiros resultados.
Os
caminhos escolhidos pela Unicamp, UFBA (Universidade Federal da
Bahia) e Uergs (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) são
diferentes. Em comum, está o fato de as análises feitas
até o momento terem mostrado que o desempenho dos beneficiados
foi semelhante --e em alguns casos até superior-- ao dos
demais estudantes. As taxas de evasão deles também
foram menores.
A Uergs
foi a primeira universidade pública a adotar, em 2002, uma
reserva de vagas levando em conta apenas o critério
socioeconômico, sem considerar a cor do candidato.
A
instituição separa metade das suas vagas a alunos
carentes e 10% a portadores de deficiência. "Embora não
haja dados confiáveis a respeito, toda desigualdade ou
preconceito se traduz em diferenças econômicas. Por
isso, atendemos a todas as formas de desigualdade", disse o
reitor da universidade, Nelson Boeira. Segundo ele, a diferença
nas notas foi pequena entre os grupos de alunos.
Preconceito
A UFBA,
uma das primeiras federais a adotar cotas, escolheu reservar vagas
para alunos da rede pública que fossem, majoritariamente,
pretos, pardos ou indígenas. Com isso, pela primeira vez os
calouros da rede pública superaram os das particulares na
aprovação e o percentual de pretos, pardos e indígenas
ficou próximo ao da população do Estado.
Para o
pró-reitor de graduação, Maerbal Bittencourt
Marinho, o aumento do percentual de negros seria alcançado
mesmo sem o corte racial. Apesar disso, ele defende o critério.
"Nas
escolas públicas baianas, o percentual de negros é
grande. Mas a universidade aceitou estabelecer também o corte
racial para mostrar que ela defende que o lugar do negro é
também na universidade. Isso ajuda a mudar a visão
preconceituosa da sociedade", diz.
Já
a Unicamp, por meio de um sistema de concessão de bônus,
foi a primeira instituição pública a adotar uma
ação afirmativa sem cotas usando a justificativa de
que, dessa maneira, seria preservado o princípio do mérito
acadêmico.
Houve
aumento no número de alunos de escolas públicas,
pretos, pardos e indígenas, ainda que não próximo
do percentual da população de São Paulo.
A
universidade avaliou o desempenho acadêmico do método.
Na maioria dos cursos (31 dos 56), os beneficiados apresentam
rendimento melhor do que o dos demais no primeiro semestre.
"Os
resultados mostram que o programa foi até agora bem-sucedido,
mas vamos continuar acompanhando os resultados para ter mais
confiança no caminho escolhido ou aperfeiçoando o
sistema", diz o reitor José Tadeu Jorge.
Essas não
são as únicas experiências com ações
afirmativas em curso no Brasil. Segundo a Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, 30
instituições de ensino superior federais ou estaduais
já adotam algum critério. Elas representam 19% total de
162 instituições dessas duas redes.
Publicado
na Folha Online em 23 de julho (ANTÔNIO GOIS RAPHAEL GOMIDE)
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